domingo, 26 de fevereiro de 2012

Campus Party evidencia necessidade de atualização das escolas


Onde estão os novos Romeros e Zuckerbergs?

A quinta edição brasileira da Campus Party, que encerrou neste final de semana, teve como alguns de seus principais temas o empreendedorismo e o futuro da educação com o advento das tecnologias digitais. Os dois temas são absolutamente convergentes.


O grande desafio dos educadores já se tornou, sem dúvida nenhuma, o de construir uma nova Escola, estruturada e preparada para lidar com uma geração que já nasceu conectada e está cada vez mais disposta a encontrar seu lugar ao sol como novos empreendedores de uma era em que a Internet e as inovações tecnológicas estão transformando profundamente as relações sociais e econômicas.

Em 1999, portanto há menos de 15 anos, quatro jovens universitários – Romero Rodrigues, Rodrigo Borges, Ronaldo Takahashi e Mário Letelier – deram início ao Buscapé, site de comparação de preços e produtos que veio a protagonizar o maior caso de sucesso da Internet brasileira com a venda para o grupo sul-africano Naspers, em 2009, por US$ 342 milhões.

Em 2004, Mark Zuckerberg, também um jovem universitário de Harvard, criou o Facebook. A empresa se consolidou em pouco tempo como a mais relevante da Web mundial e, na semana anterior ao início da Campus Party no Brasil, entregou a papelada para preparar sua abertura de capital com a estimativa de poder alcançar um valor de mercado de US$ 100 bilhões.

E qual a semelhança entre Romero Rodrigues e Mark Zuckerberg, além da clara vocação para o empreendedorismo? Certamente a visão para identificar uma oportunidade de negócio, a capacidade de inovar com pouco ou nenhum recurso e um desprendimento em estruturar uma carreira profissional não tradicional como a que se espera de quem está na Universidade (vale sublinhar que Romero e seus sócios trancaram a faculdade e retomaram o curso depois que o Buscapé já havia se estabilizado como negócio).

Tanto o Buscapé quanto o Facebook deram seus primeiros passos, basicamente, com o conhecimento que cada um tinha em programação de softwares, muita força de vontade e a coragem para enfrentar os inúmeros obstáculos de construir uma empresa tomando decisões na velocidade frenética da indústria da Internet.

As ferramentas que tiveram para empreender, apesar de terem começado as empresas em épocas diferentes, foram basicamente as mesmas: um computador e um sonho de criar negócios que estabelecessem novos paradigmas para o modo como vivemos, consumimos e nos relacionamos.

A nova escola
Dos 7 mil campistas que participaram da Campus Party, 80% têm menos de 30 anos. Muitos deles ainda estão na faculdade ou são recém-formados. Em cada barraca (ou em cada garagem) pode haver um novo Romero ou Zuckerberg, mas, para chegar lá, jovens como eles precisarão vivenciar um ambiente educacional que acompanhe efetivamente estas mudanças desde o Ensino Fundamental.

Acreditar que a Escola será capaz de contribuir para o surgimento de novos empreendedores sem que passe por uma profunda reestruturação de cunho pedagógico poderá ser um erro fatal que comprometerá o avanço do Brasil na chamada economia digital que, a propósito, deixará de ter esta denominação na medida em que não mais percebermos as fronteiras entre o digital e o real (faça a experiência e pergunte aos seus alunos e a seus filhos nascidos depois de 2000 o que é digital).

Não basta equipar as escolas com tablets e banda larga se o material didático e o conteúdo passado em sala de aula são absolutamente ultrapassados e continuam tendo como única premissa preparar os estudantes para prestar vestibular e disputar uma vaga na universidade. Para criar novos “Romeros” ou “Zuckerbergs” será preciso ir muito além.

Conectar as escolas com o mundo real e diminuir as distâncias entre o que o mercado de trabalho procura e os profissionais recém-formados oferecem serão mais do que essenciais para estimular o surgimento de empreendedores capazes de criar o próximo Buscapé ou Facebook.

Em entrevista para revista Exame, Kevin Efrusy, diretor e sócio do Accel Partners, fundo americano que investiu no Facebook, lembra que empresas como o próprio Facebook, entre elas a Microsoft, a Apple e o Netscape, foram criadas por jovens de cerca de 20 anos (como também é o caso do Buscapé) e sentencia: “Só é possível entender qual é a tecnologia que os jovens querem quando se é parte dessa nova geração”.

Pois bem. Se a Escola não conseguir se integrar com a geração apontada por Kevin Efrusy certamente perderá os bits e bites da história. Simplesmente fazê-los engolir toneladas de apostilas e livros que em nada contribuam para despertar talentos natos para o empreendedorismo inevitavelmente nos colocará como espectadores da revolução que já está em curso.

O País vive um momento fértil nunca antes visto para o surgimento de uma geração de novos bandeirantes, como foram Bill Gates, Steve Jobs, Romero Rodrigues e Zuckerberg. Os investidores já perceberam isso e estão apostando alto no cenário econômico favorável para a criação de novas empresas que têm como alicerce as tecnologias digitais.

Mas, vale ressaltar, muitos dos que estão sendo colocados no comando destas startups são estrangeiros, que desde cedo vivenciaram um ambiente acadêmico que estimula a pesquisa e a vocação empreendedora. Empresas como o próprio Buscapé vêm realizando concursos para identificar e estimular o nascimento de novos empresários, além de investir na capacitação de profissionais que chegam ao mercado ainda despreparados para trabalhar em empresas de Internet, no comércio eletrônico e nas redes sociais.

E as escolas brasileiras? Vão despertar para essas transformações e efetivamente contribuir para criar uma nova leva de empreendedores? Ou continuarão a acreditar que os campuseiros brasileiros, armados com seus laptops e tablets, não poderão ser os novos protagonistas desta nova economia? Vamos ou não estimular o surgimento de novos Romeros? É isso ou desmontar acampamento e voltar para casa com o gostinho amargo de ter fracassado na gincana digital.

Por Luciana Allan (Educar para Crescer)

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