A UNESCO no Brasil em parceria com o INEP/MEC (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Aloísio Teixeira) lançaram ontem (25/06/2007), em Brasília, o livro “Repensando a Escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever”, resultado de pesquisa realizada em dez unidades da federação sobre as diferentes situações do desempenho escolar. O lançamento contou com a presença do ministro da Educação Fernando Haddad, do Representante da UNESCO no Brasil a.i. Vincent Defourny, e das presidentes do CONSED (Conselho Nacional de Secretários de Educação) Maria Auxiliadora Seabra Rezende e da UNDIME (União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação) Cleuza Rodrigues Repulho. Os dados quantitativos e qualitativos coletados para a pesquisa referem-se à percepção dos principais agentes do ensino fundamental - professores, gestores, alunos e seus pais - sobre o tema do sucesso e do fracasso escolar. O trabalho tem como linha de organização as capacidades de leitura ao final da 4a série. A intenção foi identificar elementos objetivos e subjetivos que permitam melhor conhecer e compreender essas situações, além de subsidiar a elaboração de políticas públicas para a educação básica. O último capítulo do livro traz sugestões para políticas educacionais.
A publicação foi coordenada por Vera Esther Jandir da Costa Ireland, mestre e doutora em Educação pela Universidade de Manchester, Inglaterra, e consultora da UNESCO, e orientada metodologicamente por Bernard Charlot, Professor emérito em Ciências da Educação da Universidade de Paris 8. O trabalho contou ainda com a participação de expressivos educadores brasileiros( * ). A definição da amostra pesquisada foi feita parcialmente a partir do desenho de amostra do SAEB 2003 (Sistema de Avaliação da Educação Básica), último ano dessa avaliação então disponível. A partir dessa base foram sorteadas duas unidades da federação para cada grande região do País, e, em cada uma delas, a região metropolitana da capital. A pesquisa foi realizada, por amostragem, nos seguintes estados: Amazonas, Roraima (região Norte), Rio Grande do Norte, Sergipe (Nordeste), São Paulo, Minas Gerais (Sudeste), Paraná, Rio Grande do Sul (Sul), Mato Grosso e Distrito Federal (Centro-oeste). Cerca de 20 mil pessoas foram ouvidas, além de terem sido estudados numerosos dados estatísticos já produzidos pelo Ministério da Educação (MEC).
Alguns dos principais resultados do estudo:1. As escolas pesquisas em grande parte não apresentam graves problemas de conservação. Entretanto, os pontos mais fracos se referem a salas de aula acanhadas (o inchaço das turmas é objeto de críticas), falta de pátio e de quadras esportivas. São constantes as observações sobre a limpeza dos banheiros.
2. O livro didático é considerado ruim ou muito ruim por 20% dos professores.
3. Quem é o bom aluno? Para ele mesmo, é o que obedece à professora. Já para professores, técnicos e diretores é aquele que se esforça, para dar conta das tarefas escolares. Com isso, esforço é igual a sucesso. Ser bem-sucedido na escola depende do empenho, de querer ou não querer se devotar à escola. Assim, os alunos se consideram os culpados pelo próprio fracasso, encontrando eco na maioria dos docentes e até nos pais.
4. Quem são bons professores? Para eles mesmos, técnicos e diretores, são os que têm compromisso com os seus alunos, situando em segundo plano o domínio dos conteúdos e a capacidade didática. Quanto ao bom gestor, a principal característica é ser democrático na tomada de decisões. A liderança só aparece em quarto lugar.
5. Raras vezes se fala do apoio concreto da escola, a não ser durante as aulas e quando professores devotados permanecem após os horários letivos com os alunos.
6. Em poucas escolas se desenham estratégias para melhorar o ensino. O mais comum é planejar a escola, fazer a tarefa do projeto pedagógico, sem estratégias para implementá-lo.
7. Os depoimentos de professores sugerem que a competência deles é mais importante que a titulação e a qualificação, o que confirma outros resultados da pesquisa: não se encontram efeitos significativos dos diplomas do professor sobre o rendimento dos alunos.
8. A escola de modestos resultados se enquista, não se abre para além dos seus muros, com atividades culturais. Com isso, os alunos têm desinteresse pela leitura e tendem ao conflito, à indisciplina.
9. Apesar de condições adversas, quatro quintos das crianças declaram ir à escola com muita vontade, mesmo que essa vontade seja menor para os que tiveram reprovação, foram expulsos e apresentam distorção idade-série (possíveis fatores de desistência). Os motivos mais indicados por eles foram as próprias aulas, os professores, “para não ficar em casa ou na rua”, os amigos e, por fim, a merenda.
10. Os alunos têm uma visão bipartida da escola: é lugar onde se senta e brinca e lugar em que se fazem coisas, como ler, escrever, fazer tarefas. Indagados sobre o que gostariam de aprender na escola, eles respondem: “muitas coisas” e “aprender a estudar”.
11. O que é o sucesso para os educadores? As visões dominantes são o alcance dos objetivos, os alunos se saírem bem nas situações competitivas, formar valores e atitudes e obter a aprovação e promoção. São fatores favoráveis para lá chegar: o compromisso e a preparação dos pais, a redução do hiato entre as realidades do aluno e da escola, os recursos escolares e o interesse e estímulo dos alunos.
12. O que é o sucesso para os alunos? O sucesso depende de características inatas, que também explicam o fracasso: dom, inteligência, vontade, atenção e disciplina (quem quer aprende; quem não quer faz bagunça e não aprende), e não tanto da competência pedagógica da escola.
13. Os pais, por sua vez, ficam perplexos com as diferenças da escola de hoje e de “antigamente”. Concordam que a família é importante, todavia, as expectativas da escola podem não ser correspondidas. Os alunos novamente surgem como culpados: o sucesso provém do dom, da vontade, do esforço e da disciplina, que parecem nascer com eles, em vez de cultivados pela escola e a família.
14. Os dados mostram que a reprovação é mau remédio, que se torna um poço cada vez mais profundo.
15. A semente do fracasso é lançada muito cedo na escola, sob a forma de falta de afetividade e valorização do aluno pelo professor e, às vezes, de situações humilhantes ou depreciativas.
16. A realidade das escolas exige dinheiro, não quantias astronômicas e, sim, dinheiro rigorosamente aplicado segundo prioridades. É preciso quadras, brincadeiras, instalações, e equipamentos mínimos e acesso crítico às novas tecnologias da informação e comunicação para fazer uma escola digna do nome.
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