Maria aprendeu com a avó a fazer crochê e hoje, décadas
depois, tem a barraquinha mais movimentada da feirinha de artesanato. João até
fez faculdade de administração, mas foi com seu primeiro patrão, o seu Arnaldo
da quitanda, que aprendeu a liderar uma equipe. Walt Disney, Bill Gates, Henry
Ford, José Saramago também trilharam caminhos, digamos, mais autônomos. Em
todos esses casos, os processos educativos mais relevantes por que esses
profissionais passaram, que acabaram sendo definidores de seu posicionamento do
mercado, não ocorreu nos bancos de uma sala de aula tradicional. Momentos como
esse correspondem, segundo o especialista em inovações educacionais John
Moravec, a 5 em cada 6 processos educativos por que passamos na vida. É a
chamada educação invisível.
“A educação invisível reconhece que as formas de
aprendizagem formal, não formal, informal e incidental são interligadas. A
maior parte do nosso aprendizado é não formal”, diz Moravec que, com seu colega Cristóbal Cobo,
descreveu o conceito no livro Aprendizagem
Invisível – Para uma Nova Ecologia da Educação [livre tradução de
Aprendizaje Invisible – Hacia una Nueva Ecología de la Educación], disponível
em espanhol para download gratuito.
O MEC define a educação formal como aquela que ocorre nos
sistemas de ensino tradicionais, a não formal como iniciativas organizadas de
aprendizagem, mas que acontecem fora dos sistemas de ensino e a informal e a
incidental como as que ocorrem ao longo da vida.
O que acontece, explica o especialista norte-americano, é
que a educação formal respondia muito bem às necessidades dos séculos 17 e 18,
quando era preciso aprender a não contestar autoridades e ser formado para
trabalhar em um mercado de lógica industrial. “Hoje, precisamos preparar para
profissões que ainda nem existem”, diz ele. Nesse novo formato, em que a tecnologia é uma importante ferramenta, mas não deve ser
vista como resposta para todos os males, é preciso repensar o papel da escola.
“Nós punimos as crianças que demonstram criatividade e curiosidade. Isso deu
certo no passado, mas não é o caminho hoje.”
O ideal, defende Maoravec, é que os professores descubram as
paixões e os interesses das crianças para fazer com que a educação visível e a
invisível tenham pontos de convergência. “Devemos perguntar para a criança o
que ela deseja aprender. Quer começar um negócio? Então que comece um negócio. Se
ela for bem sucedida, vai ser ótimo. Mas boa parte dos novos negócios não
prosperam. É possível aprender até no fracasso.”
O fato de boa parte dos processos de aprendizagem ocorrerem
fora da escola, diz Moravec, traz um problema para os governos, já que é a
educação formal a que mais recebe investimento e concentrar recursos nos outros
formatos é muito mais difícil porque é preciso avaliar os momentos de educação
invisível. Mesmo em empresas, que se preocupam com a formação de seus
funcionários, esse descompasso é patente, afirma ele. “Entre 80% e 94% do que
se aprende nas empresas vêm de aprendizado informal, enquanto que 80% do
orçamento destinado a aprendizagem é gasto em educação formal.”
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