sábado, 29 de setembro de 2012

O que Bill Gates e a Maria do crochê têm em comum?

Maria aprendeu com a avó a fazer crochê e hoje, décadas depois, tem a barraquinha mais movimentada da feirinha de artesanato. João até fez faculdade de administração, mas foi com seu primeiro patrão, o seu Arnaldo da quitanda, que aprendeu a liderar uma equipe. Walt Disney, Bill Gates, Henry Ford, José Saramago também trilharam caminhos, digamos, mais autônomos. Em todos esses casos, os processos educativos mais relevantes por que esses profissionais passaram, que acabaram sendo definidores de seu posicionamento do mercado, não ocorreu nos bancos de uma sala de aula tradicional. Momentos como esse correspondem, segundo o especialista em inovações educacionais John Moravec, a 5 em cada 6 processos educativos por que passamos na vida. É a chamada educação invisível.

“A educação invisível reconhece que as formas de aprendizagem formal, não formal, informal e incidental são interligadas. A maior parte do nosso aprendizado é não formal”, diz Moravec que, com seu colega Cristóbal Cobo, descreveu o conceito no livro Aprendizagem Invisível – Para uma Nova Ecologia da Educação [livre tradução de Aprendizaje Invisible – Hacia una Nueva Ecología de la Educación], disponível em espanhol para download gratuito.

O MEC define a educação formal como aquela que ocorre nos sistemas de ensino tradicionais, a não formal como iniciativas organizadas de aprendizagem, mas que acontecem fora dos sistemas de ensino e a informal e a incidental como as que ocorrem ao longo da vida.

O que acontece, explica o especialista norte-americano, é que a educação formal respondia muito bem às necessidades dos séculos 17 e 18, quando era preciso aprender a não contestar autoridades e ser formado para trabalhar em um mercado de lógica industrial. “Hoje, precisamos preparar para profissões que ainda nem existem”, diz ele. Nesse novo formato, em que a tecnologia é uma importante ferramenta, mas não deve ser vista como resposta para todos os males, é preciso repensar o papel da escola. “Nós punimos as crianças que demonstram criatividade e curiosidade. Isso deu certo no passado, mas não é o caminho hoje.”

O ideal, defende Maoravec, é que os professores descubram as paixões e os interesses das crianças para fazer com que a educação visível e a invisível tenham pontos de convergência. “Devemos perguntar para a criança o que ela deseja aprender. Quer começar um negócio? Então que comece um negócio. Se ela for bem sucedida, vai ser ótimo. Mas boa parte dos novos negócios não prosperam. É possível aprender até no fracasso.”

O fato de boa parte dos processos de aprendizagem ocorrerem fora da escola, diz Moravec, traz um problema para os governos, já que é a educação formal a que mais recebe investimento e concentrar recursos nos outros formatos é muito mais difícil porque é preciso avaliar os momentos de educação invisível. Mesmo em empresas, que se preocupam com a formação de seus funcionários, esse descompasso é patente, afirma ele. “Entre 80% e 94% do que se aprende nas empresas vêm de aprendizado informal, enquanto que 80% do orçamento destinado a aprendizagem é gasto em educação formal.”
 Por Patrícia Gomes, do *Redação na Rua

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