sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

''As reformas devem começar de dentro das escolas'', afirma pesquisador de Harvard

Como adequar programas governamentais genéricos a contextos e problemas específicos das escolas? Para o pesquisador e professor da escola Harvard, em Boston (EUA), Matt Andrews, é necessária uma reforma nas instituições de ensino. “Parte da solução está no fato de que as mudanças devem começar de dentro das próprias escolas”, afirmou.


Durante o seminário “Reformas educacionais e escolas públicas – lições aprendidas”, ocorrido nesta quarta-feira (8/12), em São Paulo (SP), o professor falou do estudo de caso que fez no Brasil sobre o Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola). “Não é adequado querer adotar a mesma forma de gestão e o mesmo material escolar para quase todo o país, enquanto os problemas são locais, variam de acordo com o contexto”.

O Fundescola é um programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), com a interface das secretarias estaduais e municipais de Educação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O financiamento é do Banco Mundial (Bird). O programa apresenta ações para a melhoria da qualidade das escolas do ensino fundamental.

“Há locais que não importa quantos dias o aluno passa na escola, pois eles não estão aprendendo. O Fundescola não funciona em escolas pobres, porque não resolve os problemas específicos destas instituições”, disse Andrews.

“Conversei com diretores que diziam trabalhar mais de 12 horas por dia, mas mesmo assim não obtinham resultados satisfatórios. Dizem que não conseguem absorver reformas, gerenciar complicações políticas e engajar os pais dos alunos pelas melhorias”, completou.

Segundo Andrews, a comunidade precisa ter incentivos para sentir-se inspirada às reformas. Não basta ter um diretor eficiente, mas é preciso mudar a cultura com relação à escola.

O estímulo de Massachusetts

Após os professores da Brockton High School, escola de Massachusetts, implementarem reformas, o desempenho dos alunos subiu nos exames estaduais, tornando-se referência nos Estados Unidos. Brockton tem 4261 alunos, 70% são pobres, 73% representantes de minorias e 50% falam outro idioma em casa.

Há dez anos, os educadores montaram um Comitê de Reestruturação e convenceram os gestores escolares a organizarem uma campanha. A iniciativa envolvia aulas de leitura e escrita em todas as salas de aula e todas as matérias, inclusive educação física. Os 300 professores da escola foram treinados em pequenos grupos para saber como atuar.

“Começamos a nos reunir um sábado por mês para estruturar o que ensinar de leitura e escrita relacionado com a fala e a argumentação. Depois, o monitoramento do progresso dos alunos foi vital para o êxito das atividades”, revelou o diretor assistente de Brockton, na escola há 15 anos.

Antes do programa, apenas 25% dos alunos passava nos exames estaduais. Um em cada três abandonava a escola. Já nos últimos dois anos, Brockton conseguiu ser melhor do que 90% das escolas do estado. Enquanto em 1998, o índice de reprovação dos estudantes em linguagem era de 44%, em 2010, caiu para 5%. Em matemática, o índice que atingia 75% dos alunos passou para 14% neste ano.

Segundo o relatório “Como escolas de ensino médio podem se tornar exemplares”, que analisou o caso de Brockton e mais 13 instituições, “o desempenho melhorava na medida em que as lideranças da escola perseguiam a melhoria do ensino”. O estudo foi publicado no mês passado por Ronald F. Fergunson, economista e pesquisador de Harvard.

(Desirèe Luíse - Portal Aprendiz)

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