quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Deficiência das direções de escolas na gestão da dinâmica escolar

A direção escolar é sem dúvida o principal agente provocador de mudanças numa escola. Se ela vai bem a escola vai bem, se ela vai mal a escola vai mal. A direção tem um papel fundamental na implementação e na continuidade de políticas públicas que garantam educação de qualidade para todas as crianças e jovens do Brasil. Segundo Rui Canário, a boa gestão transforma problemas em soluções. Entre as várias deficiências das direções de escolas, considero estas as mais preocupantes:

1) Não entender a situação da educação de sua escola
O primeiro passo para melhorar a Educação de sua escola é entender sua situação atual, pois quando você entende um problema, tem mais chances de ajudar a resolvê-lo. Muitos não sabem o que é e muito menos qual o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) da sua escola. Não procura se informar e conscientizar todos seus colaboradores sobre a qualidade do ensino da escola que dirige. Tome o primeiro passo conhecendo o Ideb e os resultados de avaliações educacionais como a Prova Brasil.

Como gestor público da Educação, tem o importante papel – e dever - divulgar os dados educacionais, bem como as ações e medidas tomadas para melhorar o desempenho da sua escola, boa ou ruim, para seus colaboradores, alunos e pais de alunos.

2) Não cumprir a legislação vigente
Muitos gestores de escolas não cumprem a legislação relativa à Educação. Alguns exemplos são a Constituição Federal (artigos 205 a 214), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Plano Nacional de Educação, a Legislação do Ensino Fundamental, a Legislação do Ensino Médio, a Lei do Piso Nacional para Professor, o Plano de Carreira do Magistério Público Municipal e o Projeto Político Pedagógico da Escola. Para o cumprimento dessa legislação a secretarias de educação dos municípios têm um papel fundamental.

3) Não utilizar o resultado das avaliações
A maioria das direções de escolas tomam suas decisões tomando como base o achismo, ou seja, sem fundamentação técnica. Usar as avaliações externas e geradas pela própria escola possibilitam a identificação dos problemas de aprendizagem, permitindo que se dê a elas mais atenção, cuidado e prioridade.

No caso de Baraúna, implantamos na Escola Manoel de Barros, no ano de 2008, o Sistema de Avaliação e Emissão de Boletim Escolar (Saebe), mas como se esperava, os recursos do sistema não foram utilizados em sua plenitude, e pior, foi desrespeitado. O sistema possibilita uma avaliação detalhada (usa tabelas e gráficos) sobre o desempenho do aluno, professor, disciplina, turma e turno. Além da geração dessas importantes informações, gera o Boletim Escolar, ficha individual do aluno e atas.

A utilização dos resultados é primordial no aprimoramento das políticas e programas desenvolvidos na escola. Sem avaliação contínua e sistematizada, fica muito difícil saber se, por exemplo, os alunos estão aprendendo, os métodos usados pelos professores são os mais adequados, as medidas adotadas pela escola estão gerando impactos positivos sobre a qualidade do ensino, os alunos do bolsa família estão cumprindo a frequência mínima exigida pelo programa, mensura os índices de evasão, a capacitação de professores está no caminho correto, o trabalho do professor e equipe de apoio pedagógico está no caminho correto.

A transparência e divulgação dos resultados das avaliações externas e internas permitem à própria escola, às famílias, às organizações comunitárias, a secretaria de educação e, principalmente, ao poder público local se posicionar diante da situação e adotar ações convergentes e complementares, com o objetivo de superar as dificuldades encontradas.

Sem um instrumento objetivo de mensuração dos resultados, não é possível saber se o ensino está melhorando ou não.

4) Diretrizes confusas
Por exigência do Ministério da Educação, as escolas foram obrigadas a elaborar o Projeto Político Pedagógico (PPP) contendo dados da escola, objetivos, metas, prazos e responsáveis para execução das metas.

A maioria absoluta das escolas não usam este plano como instrumento norteador das decisões. No caso da Escola Manoel de Barros, nem todos alunos, funcionários, professores e pais de alunos têm conhecimento do plano, pois na época o plano não foi apresentado ao turno noturno.

O que se espera alcançar na escola deve estar contido claramente contido no plano, com metas claras e definidas a partir de dados confiáveis e do que já está estabelecido no Plano Decenal. A gestão cotidiana desse plano de metas deve ser amparada por um sistema de informação que colete dados das escolas em tempo real, e que permita ao responsável pela escola tomar decisões ao longo do ano, sempre tendo como meta o bom desempenho dos alunos.

5) Deficiência e falta de apoio da supervisão escolar
A maioria das escolas não possui um mecanismo articulado e eficiente de supervisão da escola, com foco em resultado. Também é papel da direção da escola criar as condições para que a supervisão possa realizar esse trabalho tão importante na escola. Algumas reuniões são realizadas na escola para discutir seus problemas definir estratégias, no entanto, não há acompanhamento da supervisão e muito menos da direção e as metas e ações planejadas ficam no esquecimento resultando na falta de credibilidade desses planos por parte dos professores e pior, cada professor segue o que está na sua cabeça.

6) Não há preocupação na promoção da educação dos educadores
A maioria dos professores que concluíram seus cursos universitários a mais de 10 anos e os que estão sendo formados agora, não estão preparados para ensinar no contexto atual. Mesmo os professores que depois de 15 anos voltaram à universidade para fazer uma pós-graduação retornou à sala de aula com a mesma prática pedagógica que já tinha antes da capacitação.

A direção de escola deve ter a preocupação de promover a capacitação em serviço dos professores, supervisão e funcionários. Quanto mais próxima a capacitação for do dia-a-dia da sala de aula, e quanto mais ela for atrelada a objetivos claros, melhor. Também é importante desenvolver, manter e oferecer programas estruturados e permanentes de formação de professores alfabetizadores.

7) Sem foco na aprendizagem
A maioria das direções de escolas ocupam seu tempo com as questões administrativas. Isso prejudica a principal função da escola que é promover a aprendizagem de seus alunos. Quando implantamos o Diário de Classe Eletrônico na Escola Manoel de Barros, na gestão de Valdeci dos Santos Júnior, tínhamos o objetivo de agilizar e diminuir o trabalho do professor e supervisão escolar, dando estas mais tempo para apoiar o trabalho dos professores. Resultado - se livraram dessa tarefa enjoativa mas o apoio aos professores continuam devendo.

8) Não favorecer a cooperação na escola
Maioria das direções de escolas e supervisão não adquiriam nem a competência de realizar um planejamento bimestral, imagine desenvolver, promover e executar projetos de cooperação com a comunidade local (organizações sociais, empresas, etc.), com vistas ao intercâmbio de conhecimento, difusão de boas práticas e levantamento de recursos, entre outros.

Cada professor segue seu plano de aula e sua metodologia sem o acompanhamento devido da direção e supervisão de escolas.

Considero como outro erro o isolamento da escola em relação às escolas da rede municipal e estadual. Muitas vezes queremos criar o novo e deixamos de lado as experiências que outras escolas ou até o mesmo o professor da escola desenvolve com êxito. É preciso que a direção escolar esteja atenta ao que os professores estão realizando na sua escola e o que as outras escolas realizam que pode ser copiados.

O que observamos é que nem o planejamento do calendário escolar, seu cumprimento e a matrícula são feitos conjuntamente. Resultado: prejuízo para o município e alunos, pois é comum as escolas da rede municipal está em recesso e as do estado funcionando e assim a prefeitura terá que arcar com o transporte escolar dos alunos da rede estadual.

9) Se isolar dos demais poderes e programas governamentais
A direção escolar deve trabalhar em sintonia com os poderes legislativo, executivo e judiciário, criando, aperfeiçoando, executando e fazendo cumprir leis que garantam o direito à Educação.

Questões de saúde, habitação, transporte e renda, entre outras, afetam profundamente o desempenho da educação. Portanto, é importante que as três esferas de poder público desenvolvam e apoiem políticas públicas intersetoriais. Outra parceria importante é com a iniciativa privada. No caso de Baraúna, somos produtores de várias frutas, cujo refugo (frutas com qualidade abaixo do exigido pelo mercado) poderia ser usado na merenda escolar.

10) Bolsa Família não tem o acompanhamento desejado
Temos casos de alunos que se evadem da escola no primeiro bimestre e mesmo assim continuam recebendo do programa. Não há um acompanhamento sistemático dos alunos matriculados e muito menos dos que faltam com maior frequência. Os dados cadastrais não são atualizados por negligência e pela não colaboração dos professores com seus resultados.

Se uma direção escolar não consegue manter nem seus alunos do Bolsa Família na escola, o que poderá fazer pelos outros?

11) Má utilização dos recursos financeiros e pedagógicos
Muitas escolas possuem equipamentos pedagógicos, mas não são usados porque seus professores não foram capacitados. Com isso os professores seguem usando, e muito mal, lápis e quadro. No caso da Escola Manoel de Barros, temos 10 computadores com internet que o Programa Proinfo entregou à escola em dezembro do ano passado e até o presente momento continuam dentro das caixas.

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