quarta-feira, 9 de julho de 2008

15% dos professores apresentam esgotamento e falta de motivação

15,7% dos professores, num universo de 8,7 mil docentes, apresentam a Síndrome de Burnout – problema que tem como primeiros sintomas cansaço, esgotamento e falta de motivação. O dado é do mestrado da psicóloga Nádia Leite, que foi defendido na Universidade de Brasília (UnB).
A pesquisadora entrevistou professores da educação básica da rede pública na região do Centro-Oeste do país. “Obter 15,7% num universo de 8 mil não é desprezível”, diz. Se refletir a totalidade dos professores brasileiros, mais de 300 mil docentes convivem com o problema.
A palavra burnout é uma composição de burn (queima) e out (exterior). O termo faz referência ao comportamento irritado e hostil apresentado pela pessoa que sofre da síndrome, que é causada principalmente pelo desequilíbrio e estresse físico emocional.
A enfermidade afeta especialmente profissionais da área de educação e saúde, que desenvolvem atividades que favorecem o envolvimento emocional e têm altas expectativas em relação aos resultados do seu trabalho.
“Ao não conseguir atingir as metas, esses profissionais acabam decepcionados consigo mesmos e com a carreira. Eles têm uma sensação de inutilidade, mesmo que tenham se empenhado ao máximo. A impressão que não deu conta e a desistência simbólica são aspectos muito fortes nas pessoas atingidas”, diz Nádia.
Segundo a pesquisadora, também se enquadra nesse perfil o professor que espera dos alunos um ótimo aprendizado do conteúdo por ele transmitido em sala de aula, que se esforça e dedica-se tanto como se os alunos fossem seus próprios filhos. “Diante do desinteresse, da indisciplina, da não reciprocidade e do baixo rendimento da classe, aparecem nos profissionais sinais de desânimo e o cansaço”, completa Nádia.
Os estudos também apontam que professores com a síndrome tendem a adoecer mais, faltar ao trabalho e se tornar menos criativos, o que compromete o ensino. “As conseqüências são ainda piores no ensino fundamental, quando o aprendizado dos alunos depende mais do professor, pois esse período escolar acompanha uma fase essencial da formação do indivíduo”.
Principais sintomas
Nádia explica que o primeiro sinal de instalação da síndrome é a exaustão emocional, que leva ao docente um esgotamento tão forte a ponto de não conseguir mais se doar. “Quando não consegue lidar com essa sensação, desenvolve mecanismos reativos. Como alternativa ao sofrimento, acaba por se distanciar emocionalmente, tanto do seu trabalho quanto do próprio aluno”, explica.
De acordo com a pesquisadora, a indiferença por assuntos da profissão e um forte sentimento de ineficácia são sintomas marcados pelo afastamento do trabalho, já o endurecimento afetivo e falta de empatia é um ponto forte do que Nádia chama de “despersonalização” ou distanciamento dos alunos.
A pesquisa identificou que 31,2% dos entrevistados sentiam baixa realização profissional; alto grau de esgotamento emocional foi mencionado por quase 30% e despersonalização ou distanciamento dos alunos relatado por 14%.
Para Nádia, o distanciamento dos alunos é o sinal mais cruel da burnout, pois afeta justamente aquele que deveria ser objeto de atenção e cuidado. A pesquisadora usa como exemplo a situação de professores que se referem às turmas como “aqueles pestinhas”, ou que, de tão distanciado, inconscientemente não possui mais nenhuma relação de afeto, “o aluno passa a ser apenas mais um número da chamada”.
A pesquisadora também diz que o profissional afetado pela síndrome freqüentemente está doente, sofre de insônia, úlcera, dores de cabeça, depressão e fadiga crônica.
Tratamento
Segundo Nádia, companheirismo e cooperação no trabalho por parte dos colegas são fundamentais na hora do tratamento. A freqüência de exaustão entre indivíduos sem suporte é quase o dobro da verificada em professores que se sentem apoiados. Quanto à despersonalização e à realização profissional reduzida, os dados seguem a mesma tendência: a incidência desses sintomas é três vezes maior entre os professores que não se sentem amparados pelos colegas.
“Atividades que estimulam a aproximação entre professores podem contribuir para evitar a tendência a expectativas profissionais inalcançáveis, substituindo-as por metas realistas e discutidas coletivamente”, diz. Segundo Nádia, incentivar atividades coletivas e discussão de problemas em grupo, como terapias coletivas são outra saídas para minimizar a síndrome.
Artigo publicado na íntegra e de autoria de Vivian Lobato (Portal Aprendiz).

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