Em qualquer empresa, são os resultados. Em educação, é o aprendizado de qualidade para todos os alunos. Veja o que algumas diretoras fizeram para chegar lá.
Quando se trata de administrar uma instituição, a tarefa mais importante do gestor ou da equipe gestora é tomar as decisões certas para chegar a resultados positivos, ou seja, ao lucro. Em educação, essa frase poderia ser traduzida assim: implantar as mudanças necessárias na escola para que todos os alunos aprendam. Manter a papelada em dia, atualizar os relatórios e outras questões burocráticas fazem parte da rotina de qualquer administrador, mas tudo isso deve ser feito em função do objetivo principal da escola.
A Pesquisa Nacional Qualidade da Educação, realizada no ano passado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, mostrou que os pais acreditam que os diretores exercem papel importante em relação à qualidade da educação e também na comunidade. A opinião dos entrevistados, ainda que intuitiva, reforça o que os especialistas em gestão defendem há muito tempo.
A ex-secretária da Educação do estado de São Paulo, Rose Neubauer, atualmente diretora do Instituto Protagonistés, na capital paulista, lembra que nos anos 1990 ela e sua equipe acompanharam o rendimento escolar dos alunos de 60 unidades da rede paulista, localizadas em regiões ricas e pobres, urbanas e rurais. Foram descobertas várias "escolas zebras": algumas que tinham todas as condições favoráveis para oferecer um ensino de qualidade nem sempre apresentavam bom desempenho e vice-e-versa. "O que faz a diferença é a gestão", afirma Rose.
Atenção ao nível de aprendizagem da turma
Mas o que é uma gestão escolar eficiente? De acordo com José Ernesto Bologna, diretor do Instituto Ethos de Desenvolvimento Humano e Organizacional, em São Paulo, a resposta está na preocupação do gestor com o pedagógico: "É função do diretor ou da equipe gestora estar sempre alerta aos problemas de aprendizado para ajudar o professor a encontrar as melhores estratégias de ensino". Além de incentivar o uso de novas metodologias e tecnologias, o diretor deve promover a discussão permanente de assuntos pedagógicos e outros que permeiam a educação, como o comportamento afetivo e sexual dos jovens, as drogas e o consumismo.
"O diretor que realmente deseja mudar faz a hora, não espera que as coisas aconteçam", argumenta Rose Neubauer, parodiando uma canção de Geraldo Vandré. Ela afirma que a escola geralmente é uma instituição que reage negativamente a mudanças, e todos os rituais de passagem são enfrentados com resistência. Opor-se a essa inércia é uma das marcas do bom gestor.
Todos envolvidos na solução dos problemas
A boa gestão não está ligada às ações de uma só pessoa, mas envolve a comunidade pedagógica todos que interagem com os alunos e que ensinam algo a eles. Apesar de o papel do diretor ser fundamental, sozinho ele não consegue atingir as metas de um aprendizado de qualidade. O coordenador pedagógico é seu braço direito para procurar alternativas para a sala de aula, ir atrás de estratégias de ensino novas e eficientes, planejar os horários de trabalho coletivo ou coordenar discussões pedagógicas. O professor, por sua vez, também deve estar envolvido com o trabalho de gestão, pois na ponta de todo o processo está ele com sua classe, aplicando tudo o que foi discutido em equipe.
Luzia Tavares, diretora do Colégio Estadual Júlia Kubitscheck, no Rio de Janeiro, envolveu os professores e os alunos em questões ligadas à aprendizagem. "Era necessário melhorar a leitura e a escrita e os conhecimentos em Matemática de uma boa parte dos estudantes. Ao mesmo tempo precisávamos motivar os que já tinham adquirido essas habilidades", afirma. A saída foi elaborar, coletivamente, um projeto de monitoria. No contraturno, os jovens com melhor rendimento ensinam os colegas que apresentam alguma dificuldade. "As médias de notas subiram e os alunos começaram a se sentir co-responsáveis pelo aprendizado da turma", conta Luzia.
A comunidade também foi envolvida quando a Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, em São Paulo, inovou a maneira de ensinar. Direção e corpo docente resolveram testar um novo modo de organizar as turmas, o que significaria romper com o sistema de séries e até, literalmente, derrubar algumas paredes. A diretora Ana Elisa Siqueira conta que a idéia era implantar um método de ensino baseado na experiência da Escola da Ponte, de Portugal, em que alunos de várias idades e séries têm aulas todos juntos, com o professor atuando como um facilitador do aprendizado em grupos menores de trabalho. O Escola Sem Paredes, como foi batizado, passou pela análise de alunos e pais, que responderam a uma pesquisa sobre a viabilidade e a aceitação do projeto. A novidade foi introduzida primeiramente com as turmas de 5ª e 6ª séries, mas, como os resultados foram positivos, o projeto será expandido a toda a escola.
Prédio bem-cuidado e professores capacitados
Segundo Regina Giffoni Brito, coordenadora do curso de pedagogia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, passar de uma cultura ineficiente para uma que traga resultados positivos envolve mudança de hábitos, valores e até de arquitetura. Maria Helena Campomizzio Astolphi, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Lucinda Araújo Pereira Giampietro, em Birigüi, interior de São Paulo, começou as mudanças pelo visual do prédio. Ao assumir o cargo, há cinco anos, ela detectou problemas de acolhimento dos alunos e tratou de melhorar a estrutura física. "A reforma do prédio e a nova pintura acabaram com as pichações e as depredações. Os alunos se sentiram mais acolhidos e muitos afirmam que se sentem em casa quando estão na escola", afirma a diretora.
O desempenho da turma nas atividades de leitura e de escrita era outra questão que Maria Helena precisava atacar. A solução, nesse caso, foi a capacitação, inclusive da diretora, que procurou se aperfeiçoar em sua função. Durante os anos de 2003 e 2004, Maria Helena fez o curso Gestão para o Sucesso Escolar, oferecido pela Fundação Lemann e pelo Instituto Protagonistés, em São Paulo, para diretores e coordenadores pedagógicos. As aulas ajudaram a diretora a refletir sobre sua atuação perante a escola e a traçar planos de ação. "O curso foi fundamental para eu mudar minha visão sobre a função que passei a exercer", conta Maria Helena.
Disposta a se envolver mais nas ações para melhorar o aprendizado da leitura e da escrita, ela incentivou todos os professores a participar de palestras e oficinas em jornada promovida pela secretaria municipal. Animada com as novas possibilidades de ensino, a equipe sugeriu diversas ações, imediatamente encampadas pela direção: uma pesquisa para detectar as preferências de gêneros de leitura dos alunos; o convite a grupos de contadores de histórias para apresentações periódicas; a publicação do jornal Olho Vivo, com a participação de todas as turmas; e a rádio da escola, que entrou no ar em setembro com um programa musical veiculado na hora do recreio com entrevistas, histórias da música brasileira, recados e propagandas tudo produzido pelas turmas de 1ª a 8ª série.
Outra sacada da equipe foi envolver os pais nos projetos de leitura. Três vezes por semana, um deles vai até a escola ler para as turmas. Depois de ouvir os contos, os alunos debatem a história que acabaram de escutar", conta Maria Helena.
A diretora faz parte da primeira turma de gestores formados em 2004 pela Fundação Lemann e pelo Instituto Protagonistés. O grupo era composto de 200 diretores de escolas dos estados de São Paulo e Santa Catarina. Os alunos das 4as e das 8as séries de todas elas foram avaliados antes do início do curso e alguns meses após o encerramento. A média geral dos estudantes das 4as foi de 24,2 para 28,55 de um total de 40 pontos. Já nas 8as, as notas evoluíram em média 9%, indo de 26,5 para 29,96. Além disso, em ambas as séries houve redução no porcentual de alunos situados nas faixas das notas mais baixas.
Características do bom gestor
Para José Ernesto Bologna, o diretor da escola é como um maestro: "Ele rege a orquestra, mas suas mãos são ampliadas pelo grupo de especialistas que o rodeia". Um bom gestor deve ser um líder e agregar as seguintes atitudes:
1) Estar sempre preocupado com os resultados da aprendizagem.
2) Participar do planejamento e fazer o acompanhamento do trabalho docente.
3) Conversar com alunos e funcionários para detectar problemas e níveis de satisfação e ouvir sugestões.
4) Ser um construtor de consensos, mas estar sempre aberto às novas idéias e à diversidade, aceitando opiniões e novas propostas.
5) Ser audacioso o suficiente para fazer as mudanças necessárias visando sempre melhorar a qualidade do ensino.
6) Manter as questões administrativas em dia.
Artigo publicado na íntegra da NOVA ESCOLA, edição 188 de dezembro de 2005.
Quando se trata de administrar uma instituição, a tarefa mais importante do gestor ou da equipe gestora é tomar as decisões certas para chegar a resultados positivos, ou seja, ao lucro. Em educação, essa frase poderia ser traduzida assim: implantar as mudanças necessárias na escola para que todos os alunos aprendam. Manter a papelada em dia, atualizar os relatórios e outras questões burocráticas fazem parte da rotina de qualquer administrador, mas tudo isso deve ser feito em função do objetivo principal da escola.
A Pesquisa Nacional Qualidade da Educação, realizada no ano passado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, mostrou que os pais acreditam que os diretores exercem papel importante em relação à qualidade da educação e também na comunidade. A opinião dos entrevistados, ainda que intuitiva, reforça o que os especialistas em gestão defendem há muito tempo.
A ex-secretária da Educação do estado de São Paulo, Rose Neubauer, atualmente diretora do Instituto Protagonistés, na capital paulista, lembra que nos anos 1990 ela e sua equipe acompanharam o rendimento escolar dos alunos de 60 unidades da rede paulista, localizadas em regiões ricas e pobres, urbanas e rurais. Foram descobertas várias "escolas zebras": algumas que tinham todas as condições favoráveis para oferecer um ensino de qualidade nem sempre apresentavam bom desempenho e vice-e-versa. "O que faz a diferença é a gestão", afirma Rose.
Atenção ao nível de aprendizagem da turma
Mas o que é uma gestão escolar eficiente? De acordo com José Ernesto Bologna, diretor do Instituto Ethos de Desenvolvimento Humano e Organizacional, em São Paulo, a resposta está na preocupação do gestor com o pedagógico: "É função do diretor ou da equipe gestora estar sempre alerta aos problemas de aprendizado para ajudar o professor a encontrar as melhores estratégias de ensino". Além de incentivar o uso de novas metodologias e tecnologias, o diretor deve promover a discussão permanente de assuntos pedagógicos e outros que permeiam a educação, como o comportamento afetivo e sexual dos jovens, as drogas e o consumismo.
"O diretor que realmente deseja mudar faz a hora, não espera que as coisas aconteçam", argumenta Rose Neubauer, parodiando uma canção de Geraldo Vandré. Ela afirma que a escola geralmente é uma instituição que reage negativamente a mudanças, e todos os rituais de passagem são enfrentados com resistência. Opor-se a essa inércia é uma das marcas do bom gestor.
Todos envolvidos na solução dos problemas
A boa gestão não está ligada às ações de uma só pessoa, mas envolve a comunidade pedagógica todos que interagem com os alunos e que ensinam algo a eles. Apesar de o papel do diretor ser fundamental, sozinho ele não consegue atingir as metas de um aprendizado de qualidade. O coordenador pedagógico é seu braço direito para procurar alternativas para a sala de aula, ir atrás de estratégias de ensino novas e eficientes, planejar os horários de trabalho coletivo ou coordenar discussões pedagógicas. O professor, por sua vez, também deve estar envolvido com o trabalho de gestão, pois na ponta de todo o processo está ele com sua classe, aplicando tudo o que foi discutido em equipe.
Luzia Tavares, diretora do Colégio Estadual Júlia Kubitscheck, no Rio de Janeiro, envolveu os professores e os alunos em questões ligadas à aprendizagem. "Era necessário melhorar a leitura e a escrita e os conhecimentos em Matemática de uma boa parte dos estudantes. Ao mesmo tempo precisávamos motivar os que já tinham adquirido essas habilidades", afirma. A saída foi elaborar, coletivamente, um projeto de monitoria. No contraturno, os jovens com melhor rendimento ensinam os colegas que apresentam alguma dificuldade. "As médias de notas subiram e os alunos começaram a se sentir co-responsáveis pelo aprendizado da turma", conta Luzia.
A comunidade também foi envolvida quando a Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, em São Paulo, inovou a maneira de ensinar. Direção e corpo docente resolveram testar um novo modo de organizar as turmas, o que significaria romper com o sistema de séries e até, literalmente, derrubar algumas paredes. A diretora Ana Elisa Siqueira conta que a idéia era implantar um método de ensino baseado na experiência da Escola da Ponte, de Portugal, em que alunos de várias idades e séries têm aulas todos juntos, com o professor atuando como um facilitador do aprendizado em grupos menores de trabalho. O Escola Sem Paredes, como foi batizado, passou pela análise de alunos e pais, que responderam a uma pesquisa sobre a viabilidade e a aceitação do projeto. A novidade foi introduzida primeiramente com as turmas de 5ª e 6ª séries, mas, como os resultados foram positivos, o projeto será expandido a toda a escola.
Prédio bem-cuidado e professores capacitados
Segundo Regina Giffoni Brito, coordenadora do curso de pedagogia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, passar de uma cultura ineficiente para uma que traga resultados positivos envolve mudança de hábitos, valores e até de arquitetura. Maria Helena Campomizzio Astolphi, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Lucinda Araújo Pereira Giampietro, em Birigüi, interior de São Paulo, começou as mudanças pelo visual do prédio. Ao assumir o cargo, há cinco anos, ela detectou problemas de acolhimento dos alunos e tratou de melhorar a estrutura física. "A reforma do prédio e a nova pintura acabaram com as pichações e as depredações. Os alunos se sentiram mais acolhidos e muitos afirmam que se sentem em casa quando estão na escola", afirma a diretora.
O desempenho da turma nas atividades de leitura e de escrita era outra questão que Maria Helena precisava atacar. A solução, nesse caso, foi a capacitação, inclusive da diretora, que procurou se aperfeiçoar em sua função. Durante os anos de 2003 e 2004, Maria Helena fez o curso Gestão para o Sucesso Escolar, oferecido pela Fundação Lemann e pelo Instituto Protagonistés, em São Paulo, para diretores e coordenadores pedagógicos. As aulas ajudaram a diretora a refletir sobre sua atuação perante a escola e a traçar planos de ação. "O curso foi fundamental para eu mudar minha visão sobre a função que passei a exercer", conta Maria Helena.
Disposta a se envolver mais nas ações para melhorar o aprendizado da leitura e da escrita, ela incentivou todos os professores a participar de palestras e oficinas em jornada promovida pela secretaria municipal. Animada com as novas possibilidades de ensino, a equipe sugeriu diversas ações, imediatamente encampadas pela direção: uma pesquisa para detectar as preferências de gêneros de leitura dos alunos; o convite a grupos de contadores de histórias para apresentações periódicas; a publicação do jornal Olho Vivo, com a participação de todas as turmas; e a rádio da escola, que entrou no ar em setembro com um programa musical veiculado na hora do recreio com entrevistas, histórias da música brasileira, recados e propagandas tudo produzido pelas turmas de 1ª a 8ª série.
Outra sacada da equipe foi envolver os pais nos projetos de leitura. Três vezes por semana, um deles vai até a escola ler para as turmas. Depois de ouvir os contos, os alunos debatem a história que acabaram de escutar", conta Maria Helena.
A diretora faz parte da primeira turma de gestores formados em 2004 pela Fundação Lemann e pelo Instituto Protagonistés. O grupo era composto de 200 diretores de escolas dos estados de São Paulo e Santa Catarina. Os alunos das 4as e das 8as séries de todas elas foram avaliados antes do início do curso e alguns meses após o encerramento. A média geral dos estudantes das 4as foi de 24,2 para 28,55 de um total de 40 pontos. Já nas 8as, as notas evoluíram em média 9%, indo de 26,5 para 29,96. Além disso, em ambas as séries houve redução no porcentual de alunos situados nas faixas das notas mais baixas.
Características do bom gestor
Para José Ernesto Bologna, o diretor da escola é como um maestro: "Ele rege a orquestra, mas suas mãos são ampliadas pelo grupo de especialistas que o rodeia". Um bom gestor deve ser um líder e agregar as seguintes atitudes:
1) Estar sempre preocupado com os resultados da aprendizagem.
2) Participar do planejamento e fazer o acompanhamento do trabalho docente.
3) Conversar com alunos e funcionários para detectar problemas e níveis de satisfação e ouvir sugestões.
4) Ser um construtor de consensos, mas estar sempre aberto às novas idéias e à diversidade, aceitando opiniões e novas propostas.
5) Ser audacioso o suficiente para fazer as mudanças necessárias visando sempre melhorar a qualidade do ensino.
6) Manter as questões administrativas em dia.
Artigo publicado na íntegra da NOVA ESCOLA, edição 188 de dezembro de 2005.
Um comentário:
O que você escreveu é um sonho para Baraúna. Com pouquíssima exceção, a maioria dos diretores das escolas de Baraúna só tem no salário que recebe o único interesse pelas escolas. Os alunos que se dane. Há um diretor de uma escola em Baraúna que alunos, funcionários e professores não aguentam mais ele. O tal diretor acha que a escola é dele.
Mas a culpa é do prefeito que deixa em último plano a qualidade do ensino para satisfazer os caprichos dele.
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