O mundo se transforma a todo instante. Os mercados, as empresas e os indivíduos
nunca permanecem os mesmos. Devido a essa transformação constante, que na maior
parte do tempo é muito lenta e imperceptível, todos nós somos convidados a nos
adaptar e nos transformar também. Estar consciente dessa realidade é que nos
permite escolher. Aceitamos a transformação ou resistimos a ela?
Os que resistem à transformação imaginam que o mundo será como antes. Acreditam
que as condições que permitiram seu sucesso no passado se repetirão e,
portanto, não precisam se aprimorar, apenas esperar. Em geral, é o que fazem.
Já aqueles que aceitam a transformação, sabem que precisam se adaptar
constantemente, pois seu aprendizado torna-se obsoleto a cada instante, e que
ficar parado, nessa realidade, equivale a morrer em vida.
Aqueles que melhor se adaptam às transformações, em geral, são os que se tornam
líderes. São eles que contribuem para o desenvolvimento dos demais, liderando
um processo que também é transformador.
Nesse sistema de adaptação e melhoria contínua, é que observamos o quanto temos
a aprender com os atletas olímpicos.
Seja treinável
Existem muitos cursos que se propõem a ensinar o profissional a ser líder. Não
conheço nenhum que o ensine a ser liderado. Entretanto, para se desenvolver
precisa de uma competência fundamental: ser treinável. Isso significa,
conscientemente, abrir mão de se auto-orientar para receber o treinamento de
alguém que, reconhecidamente, é capaz de auxiliá-lo a aprimorar-se.
O problema de alguém tentar fazer isso sozinho é que, provavelmente, não usará
um método reconhecido. A consequência é que demorará muito para aprender, e o
resultado será duvidoso.
Os melhores atletas são treináveis, dedicam-se ao treino de corpo e alma por
anos a fio.
Aprenda a lidar com as frustrações
Mesmo que dois ou mais atletas desempenhem com perfeição sua modalidade,
somente um será o campeão. Para competir, um atleta deve saber lidar com a
derrota. Nesse sentido, significa aprender com ela. Na raiz da palavra
competição está o conceito de que seu oponente dará o melhor de si, e você
deverá fazer o mesmo. E, nesse exercício, ambos cooperarão para o
aperfeiçoamento mútuo.
Em nossa cultura, as pessoas têm um relacionamento fatalista com a derrota.
Como se ela fosse definitiva, vergonhosa e não devesse acontecer. Com esse
pensamento, é difícil se aprimorar. A derrota é apenas um feedback para dizer
ao indivíduo que, da forma como ele está fazendo, não funciona. Portanto, deve
fazer de outro modo. Aumentar seu repertório e aprimorar-se.
Ganhar jogando mal
Um campeão não é aquele que se apresenta competindo bem o tempo todo, mas
aquele que, mesmo em um dia infeliz, consegue vencer. Quando observamos os
grandes, vemos claramente que são capazes de arrancar uma vitória em momentos
em que não estão no seu melhor ou quando cometem erros. Isso exige reconhecer
que somos humanos e, como tal, não estamos todos os dias em nosso melhor
momento. Portanto, temos de aprender como fazer para arrancar o resultado
necessário em um dia difícil.
Ganhar dos desonestos
No campo, assim como na vida, não temos condições de escolher 100% das pessoas
com quem vamos nos relacionar. E encontraremos aquelas que não jogam pelas
regras do jogo. Temos de identificá-las e ganhar delas também. Se não
desenvolvermos essa competência, chegaremos ao fim de nossa carreira lamentando
a má sorte de termos tido nosso tapete puxado.
Além de identificar essas pessoas de má índole em nosso campo de atuação, temos
também de ter muito cuidado com os juízes. Isto é, aqueles que determinam o
jogo, quando é falta e o que é válido. Refiro-me a líderes que deveriam saber
que seu papel principal é desenvolver pessoas e assegurar as condições para que
isso ocorra. Entretanto, muitas vezes são eles os elementos desonestos.
Portanto, temos de ter habilidade para identificá-los e, na maioria das vezes,
endurecer o jogo para que possamos sair vencedores nessas situações. Mas saiba
que, no caso de juízes desonestos, por vezes a única saída é aceitar a derrota
na partida e esperar a próxima oportunidade.
Treine todas as suas dimensões
Não adianta um atleta estar preparado fisicamente, mas ser fraco
emocionalmente. O preparo mental é tão importante quanto o atlético. É
fundamental que o atleta desenvolva a mente para suportar os rigores do treino
e as pressões das situações desfavoráveis durante a competição. Um profissional
na empresa deveria fazer o mesmo.
Em geral, as pessoas são contratadas por suas habilidades técnicas e demitidas
por seu comportamento. Nada causa mais dano à carreira do profissional que seu
despreparo emocional, incapacidade de lidar com a política da organização e
aceitar os paradoxos empresariais. Amadurecer significa percorrer uma estrada
rigorosa, mas nem todos estão dispostos a fazê-lo.
Vença os desequilíbrios
A vida é injusta, acostume-se a isso. Nas competições, os atletas americanos
possuem mais recursos que os demais. Na China, eles usam o esporte como
propaganda política, portanto, há um apoio ao esporte muito mais intenso que no
Brasil.
Em Londres são mais de 14.000 atletas e somente 302 medalhas de ouro. Não
importa o quanto tenha se esforçado, a maioria voltará somente com a lembrança
de ter participado do evento.
Se nós formos esperar por maiores e melhores políticas de incentivo ao esporte,
recursos para educação e justiça para fazer o que tivermos de fazer para
vencer, aguardaremos indefinidamente.
Em nossa carreira, com frequência, ocorre o mesmo: as dificuldades para estudar
e graduar-se são enormes. A competição para ingressar nas empresas é brutal. Em
seu interior, a pressão por resultados, as jornadas exaustivas e as cobranças
são constantes. Isso sem falar nas deslealdades e condições desbalanceadas
provocadas por paradoxos, políticas e favorecimentos. Acostume-se com isso. Não
há empresa perfeita.
Vencer vale a pena
Competir é a essência do espírito olímpico. Mas competir para vencer. Ou seja,
um atleta nos jogos deve competir para ser vencedor, e não somente para
participar.
Na empresa, e de certo modo na vida como um todo, precisamos ser incansáveis,
não nos paralisar diante do medo, recusar a ser insignificantes e nos recuperar
dos fracassos.
A vitória é reservada somente para aqueles que não desistem. E vale cada
segundo da jornada.
Vamos em frente!
Autor: Silvio Celestino.
Consultor Organizacional e Senior Partner da Alliance
Coaching.
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