“Se existe um professor que pode ser substituído por uma
máquina, é porque ele realmente merece ser substituído”. A resposta foi uma
provocação do indiano Sugata Mitra, professor de Tecnologia Educacional da
Newcastle University, na Inglaterra e professor visitante do Massachusetts
Institute of Technology, o famoso MIT.
Em palestra ontem no EducaParty, programação voltada
para a Educação na Campus Party, ele relatou as pesquisas que comprovaram
a habilidade das crianças em aprender sozinhas quando têm acesso a um
computador com internet, dispensando a intermediação de um adulto
Seu mais emblemático experimento é o “Hole in the Wall”
(Buraco na Parede, em tradução livre). Sugata Mitra colocou um computador com
acesso à internet no muro de uma favela em Nova Delhi, na Índia e, com auxílio
de câmeras, observou o processo durante dois meses. O resultado? Crianças que
nunca viram um computador e não sabiam inglês aprenderam rapidamente a navegar
na internet e ainda ensinavam outras crianças. “Em 9 meses, as crianças atingem
o nível de secretárias que trabalham com o computador no escritório”, disse
Mitra.
Essa experiência pode ser uma solução para um dos problemas
que Mitra encontra na Educação atualmente: a falta de escolas. “Ela demonstra
que crianças expostas ao computador rapidamente entendem seu funcionamento” e
os benefícios não tardam a aparecer: melhora a leitura, a compreensão e a
capacidade de responder a perguntas. Porém, a principal transformação que esse
aprendizado realiza nas crianças é outra. Elas ficam mais confiantes, a
autoestima cresce, a postura muda. “Elas dizem para si mesmas que são capazes
de fazer o que as outras crianças fazem, mesmo que não tenham a mesma condição
financeira”, relata Mitra.
Falta de interesse
O segundo problema diagnosticado por ele é o desinteresse dos alunos. A solução
é simples: saber instigar as crianças com a ajuda do computador. Hoje, a
principal reclamação dos alunos é não entender por que estão aprendendo
determinada matéria. “Trigonometria, por exemplo, é uma palavra que apavora
todo mundo”, exemplifica.
Uma história real mostra como despertar o interesse das
crianças. Em Hong Kong, Mitra perguntou aos alunos como um Ipad sabe sua
localização e deixou que pesquisassem na internet. Trinta minutos depois, os
alunos aprenderam que três satélites estavam envolvidos no trabalho. E, depois
de outra rápida pesquisa, descobriram que o Ipad usava trigonometria. “Perguntei
se eles queriam saber como isso funcionava e os meninos de 12 anos responderam
que sim! E então eu disse ao professor de matemática: “agora a porta está
aberta".
O modelo atual de Educação, que ignora as mudanças
promovidas pela tecnologia, também contribui para o desinteresse dos alunos,
acredita Mitra. “Uma criança lê uma página inteira, mas não consegue
entendê-la, interpretá-la”, aponta. Para ele, isso é fruto de um modelo
ultrapassado de Educação “definido 300 anos atrás”, que prioriza a capacidade de
decorar informações. Naquela época isso fazia sentido, já que o cérebro
era a principal ferramenta para armazenar dados; mas hoje existem diversos
dispositivos que podem realizar essa tarefa. “A memória não é o mais
importante, mas sim, a capacidade de compreensão e de discernimento sobre as
informações que lê”, defende. O sistema educacional ainda não entende isso: “se
um aluno perguntar se pode levar um pendrive para fazer a prova, a resposta
será não.”
Voltando à polêmica sobre a necessidade de um adulto que
intermedeie o processo de aprendizagem, Mitra explica que o papel do
professor assim como o currículo devem ser reformulados para que as crianças se
interessem pelo estudo. Hoje, o professor ensina um método para solucionar
problemas e explica quando usá-lo. Para ele, as crianças devem ter a
possibilidade de encontrar um método sozinhas e o professor deve apoiar e
instigar esse processo.
Assista a uma palestra que Sugata Mitra o evento Ted Global,
em 2010, sobre suas pesquisas.
http://www.ted.com/talks/sugata_mitra_the_child_driven_education.html
http://www.ted.com/talks/sugata_mitra_the_child_driven_education.html
Por Iana Chan do Educar para Crescer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário