Em decisão que contraria o processo de evolução do piso
salarial profissional nacional do magistério (PSPN) e os fundamentos
constitucionais de financiamento dessa política pública, a Comissão de Finanças
e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados aprovou, no último dia 23 de
novembro, parecer do dep. José Guimarães (PT-CE), que estabelece o INPC/IBGE
como único índice de reajuste anual do PSPN.
Para os cerca de dois milhões de profissionais do magistério
público da educação básica no país, essa deliberação da CFT/Câmara requerida
pela Fazenda Federal e por governadores e prefeitos, não só anula a
possibilidade de valorização do piso e das carreiras profissionais - por meio
de medida que contraria, inclusive, preceito constitucional - como dá guarida
aos entes federados que, desde a vigência da norma federal lutam,
deliberadamente, inclusive por meio de ações judiciais no Supremo Tribunal
Federal, contra a Lei 11.738.
Em 2008, após ano e meio de tramitação do PL 619/07, o
presidente Lula sancionou a Lei do Piso e sua sucessora, a exemplo de toda base
aliada do Governo Federal, utilizou-se dessa importante conquista da educação
para angariar prestígio e votos não só dos/as trabalhadores/as em educação como
também de grande parte do eleitorado brasileiro.
No entanto, paradoxalmente, desde que o piso entrou em
vigor, a CNTE e seus sindicatos filiados têm precisado lutar pelo cumprimento
dos preceitos da Lei - insistentemente descumpridos por gestores públicos -,
por entender que o piso é o primeiro passo rumo à efetiva valorização de uma
categoria profissional castigada ao longo de décadas, e por que não dizer
séculos! Prova dessa luta está expressa nas 16 greves estaduais e nos inúmeros
outros movimentos paredistas municipais, deflagrados ao longo do ano de 2011, em
protesto aos desrespeitos à lei federal.
Ainda sobre as greves, importante frisar que, em nenhuma
delas, as administrações públicas conseguiram comprovar a falta de recursos
para o pagamento do piso, haja vista o MEC não ter utilizado os cerca de R$ 1 bilhão
que dispõe para complementar os vencimentos iniciais da categoria. Também o
Supremo Tribunal Federal, no julgamento de mérito da ação direta de
inconstitucionalidade (ADI 4.167), rechaçou o argumento dos governadores de
escassez de recursos para cumprimento do piso, tanto por falta de provas como
por considerar que as administrações públicas tiveram tempo suficiente, desde a
sanção presidencial, para se adaptarem à norma. Ademais, o STF também foi
taxativo quanto à constitucionalidade do piso, que precisa, por óbvio, ter sua
valorização vinculada à principal fonte financiadora - o Fundeb.
Lembramos, por oportuno, que o Substitutivo do Senado,
acordado entre o MEC e as entidades da educação, e que mantém a perspectiva de
aumento real do valor do piso, havia sido aprovado, por unanimidade, nas
Comissões de Educação; de Trabalho, Administração e Serviço Público, além da
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, de forma que a CFT
foi a única Comissão a recusá-lo por razões meramente de economia fiscal.
Por estas razões, a CNTE manifesta sua absoluta insatisfação
com a decisão da CFT/Câmara dos Deputados, ao tempo em que procurará formas de
reverter essa votação que compromete qualquer possibilidade de melhoria das
condições de vida e trabalho do magistério público da educação básica.
Enfatizamos, por fim, que essa decisão da CFT/Câmara ocorre
simultaneamente à pressão que o relator do PNE tem sofrido para não propor
nenhum percentual de investimento do PIB na educação acima de 7%. Contudo, o
indicativo do Governo Federal não atende às demandas educacionais, a começar
pela que exige valorização salarial do magistério, razão pela qual a sociedade
reforçará a mobilização pelos 10% do PIB para a educação
Artigo publicado pela CNTE.
2 comentários:
É uma vergonha para a nação brasileira, um tipo de posicionamento como esse é um completo desrespeito e descaso para com a classe dos professores.
Enquanto não se priorizar a educação como se deve, não haverá desenvolvimento do País. Sabe-se que os países que mais crescem são aqueles que investem em educação. Pois um povo desenvolvido, desenvolve sua nação.
No entanto, se permanecer essa política de desvalorização dos professores continuaremos a ser uma nação de analfabetos. Nos distanciando cada vez mais do desenvolvimento que almejamos.
Silvana
Essas suas palavras são tão bonitinhas cara comentarista, mas como é q os gorvernantes vão valorizar os professores se eles mesmos não se valorizam?Se eles baixam a cabeça e se ajoelham diante dos prefeitos.
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