segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Risco de baixo desempenho escolar é maior entre filhos de pais separados, diz pesquisa

Logo após se separar da mulher, há cerca de dez anos, Analdino Rodrigues Paulino, 57, viu a filha mudar diversas vezes de escola.


Enquanto os pais decidiam quem ficaria com a guarda da garota, ela tinha de se adaptar não só às mudanças na família como também na sua educação.


Isso fez com que ela perdesse o interesse nos estudos e passasse a ter dificuldades na escola, conta o pai, que hoje é presidente nacional da Apase (Associação de Pais e Mães Separados).


Paulino diz que, durante todo o tempo que passa com a filha --ele mora em São Paulo, ela, em Goiânia (GO), ele se esforça para que ela tome gosto por estudar.


O caso da filha de Paulino é um exemplo do que foi constatado em uma pesquisa feita pelo Instituto Glia com 5.961 crianças e adolescentes de diversos pontos do país.


De acordo com o levantamento, crianças e adolescentes com pais separados têm um risco 46% maior de ter baixo desempenho escolar.


"Ter o risco não significa que necessariamente irão apresentar esses problemas, quer dizer apenas que existe propensão", explica o neurologista e coordenador do projeto Marco Antônio Arruda.


O principal objetivo do estudo, que também mediu fatores de risco para baixa saúde mental (leia mais ao lado), é justamente alertar pais e educadores para que os problemas sejam evitados.


Por isso, o estudo foi editado em formato de cartilha com recomendações de precaução contra baixo desempenho escolar e distúrbios mentais. Os dados completos serão apresentados no Congresso Aprender Criança, que começa na sexta (6), em Ribeirão Preto (313 km de SP).


LUTO


Especialistas em psicologia e educação consultados são unânimes em recomendar que os dados sejam encarados com cuidado. Isso porque não se pode dizer que a separação é uma causa para o baixo desempenho escolar.


No entanto, a maioria deles reconhece que a separação pode causar problemas emocionais à criança, o que pode se refletir na escola.


"O desconforto emocional pode se refletir no desempenho escolar, em uma insônia ou uma hiperatividade", exemplifica a psicanalista Blenda de Oliveira, diretora da Casa Movimento.


A psicopedagoga Maria Irene Maluf diz que esse período de adaptação, em que a criança passa por uma espécie de luto, dura de 10 a 12 meses. "Passada essa fase, isso desaparece totalmente."


A terapeuta familiar Roberta Palermo lembra ainda que, mesmo após a separação, ambos os pais devem se interessar pela vida escolar dos filhos.


"É importante que o pai não se torne apenas um provedor financeiro após a separação. Portanto, ele deve opinar na escolha da escola, deve estar presente nos eventos e reuniões. Ambos devem ter um discurso semelhante sobre o que esperam da vida escolar dos filhos e, quando não se entenderem, devem manter o respeito."


TRABALHO DA ESCOLA


Já Marisa Melillo Meira, que é professora de psicologia da educação da Unesp de Bauru, acredita que o baixo rendimento não pode ser visto como um sintoma de distúrbio causado pela separação dos pais.


"O desempenho da criança está diretamente ligado ao trabalho da escola."


Veja Cartilha


(Fabiana Rewald/Folha de São Paulo)


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