Logo após se separar da mulher, há cerca de dez anos, Analdino Rodrigues Paulino, 57, viu a filha mudar diversas vezes de escola.
Enquanto os pais decidiam quem ficaria com a guarda da garota, ela tinha de se adaptar não só às mudanças na família como também na sua educação.
Isso fez com que ela perdesse o interesse nos estudos e passasse a ter dificuldades na escola, conta o pai, que hoje é presidente nacional da Apase (Associação de Pais e Mães Separados).
Paulino diz que, durante todo o tempo que passa com a filha --ele mora em São Paulo, ela, em Goiânia (GO), ele se esforça para que ela tome gosto por estudar.
O caso da filha de Paulino é um exemplo do que foi constatado em uma pesquisa feita pelo Instituto Glia com 5.961 crianças e adolescentes de diversos pontos do país.
De acordo com o levantamento, crianças e adolescentes com pais separados têm um risco 46% maior de ter baixo desempenho escolar.
"Ter o risco não significa que necessariamente irão apresentar esses problemas, quer dizer apenas que existe propensão", explica o neurologista e coordenador do projeto Marco Antônio Arruda.
O principal objetivo do estudo, que também mediu fatores de risco para baixa saúde mental (leia mais ao lado), é justamente alertar pais e educadores para que os problemas sejam evitados.
Por isso, o estudo foi editado em formato de cartilha com recomendações de precaução contra baixo desempenho escolar e distúrbios mentais. Os dados completos serão apresentados no Congresso Aprender Criança, que começa na sexta (6), em Ribeirão Preto (313 km de SP).
LUTO
Especialistas em psicologia e educação consultados são unânimes em recomendar que os dados sejam encarados com cuidado. Isso porque não se pode dizer que a separação é uma causa para o baixo desempenho escolar.
No entanto, a maioria deles reconhece que a separação pode causar problemas emocionais à criança, o que pode se refletir na escola.
"O desconforto emocional pode se refletir no desempenho escolar, em uma insônia ou uma hiperatividade", exemplifica a psicanalista Blenda de Oliveira, diretora da Casa Movimento.
A psicopedagoga Maria Irene Maluf diz que esse período de adaptação, em que a criança passa por uma espécie de luto, dura de 10 a 12 meses. "Passada essa fase, isso desaparece totalmente."
A terapeuta familiar Roberta Palermo lembra ainda que, mesmo após a separação, ambos os pais devem se interessar pela vida escolar dos filhos.
"É importante que o pai não se torne apenas um provedor financeiro após a separação. Portanto, ele deve opinar na escolha da escola, deve estar presente nos eventos e reuniões. Ambos devem ter um discurso semelhante sobre o que esperam da vida escolar dos filhos e, quando não se entenderem, devem manter o respeito."
TRABALHO DA ESCOLA
Já Marisa Melillo Meira, que é professora de psicologia da educação da Unesp de Bauru, acredita que o baixo rendimento não pode ser visto como um sintoma de distúrbio causado pela separação dos pais.
"O desempenho da criança está diretamente ligado ao trabalho da escola."
(Fabiana Rewald/Folha de São Paulo)
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