sábado, 19 de junho de 2010

Educação sexual ainda está longe da realidade das escolas

Sobre educação sexual muito se fala e pouco se faz. As escolas do país, públicas e particulares, ainda estão longe de colocar em prática a grande discussão que há em torno do assunto. No fim do ano passado e início de 2006 três novos livros sobre como falar de sexo para crianças e adolescentes foram lançados no país. Mas pesquisa recente do Ministério da Saúde, que usou dados do Censo Escolar, mostra que apenas 5,5% das escolas trabalham semanalmente o tema aids e doenças sexualmente transmissíveis (DST).


As dificuldades começam no despreparo dos professores, passam pelo medo dos pais, pela cultura sexista. Mesmo quando há informação, é difícil fazer com que ela transforme comportamentos. "Para estar preparado é preciso mais do que ler, deve-se saber lidar com medos, tabus, preconceitos e fantasmas", diz o psicólogo, sociólogo e educador Antonio Carlos Egypto, autor de Sexo, Prazeres e Riscos (ed. Saraiva, 96 págs., R$ 26,90), um livro paradidático, ilustrado, que fala com objetividade sobre temas como masturbação, aborto, sadomasoquismo e sexo oral.


A educação sexual faz parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que orientam o trabalho nas escolas do país desde 1997. O texto não fala em obrigatoriedade de uma disciplina específica para o tema, mas sugere que ele faça parte do projeto pedagógico da escola e seja trabalhado em todas as matérias. Mas são poucos os cursos de especialização ou pós-graduação nas universidades brasileiras para formar professores em educação sexual.


Na pesquisa feita pelo Ministério da Saúde no ano passado, 43% dos professores se declararam capacitados para trabalhar a sexualidade em sala de aula. Apesar de 52% das escolas responderem que falam sobre gravidez na adolescência, 60% sobre DST/aids e 45% sobre saúde sexual e reprodutiva, a freqüência que esses assuntos aparecem derrubou os números que pareciam positivos. Só 29% fazem atividades mensais.


"As escolas fazem uma palestra uma vez e acham que é suficiente. Mas as crianças crescem e têm novas dúvidas", diz a educadora sexual Laura Muller, autora de 500 Perguntas sobre Sexo do Adolescente (ed. Objetiva, 256 págs., R$ 34,90).


"Ainda não há muitas respostas sobre como se fazer orientação sexual", diz o secretário de Alfabetização, Inclusão e Diversidade do Ministério da Educação (MEC), Ricardo Henriques. No ano passado, o ministério resolveu apoiar grupos que estão desenvolvendo mecanismos para se trabalhar a homossexualidade na sala de aula. Os educadores estão estudando com movimentos de gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais maneiras de falar com crianças e jovens sobre o assunto sem impor uma opção sexual. "Só a médio prazo isso chegará aos alunos, ainda é preciso dar aos professores a prática pedagógica", explica Henriques.


Pesquisa realizada pela Unesco em 2004 nas escolas do país mostra que há preconceito de pais, professores e alunos. Um quarto dos estudantes não gostaria de ter um colega homossexual e por volta de 15% deles acreditam que homossexualidade é uma doença. Segundo a oficial de programas do programa DST/Aids da Unesco no Brasil, Maria Rebeca Otero Gomes, a mudança de comportamentos é facilitada quando jovens falam diretamente para jovens.


Escolas pioneiras e com experiências bem-sucedidas em educação sexual mostram também que o assunto deve ter abordagens diferenciadas conforme a idade. O Colégio Bandeirantes oferece, desde os anos 90, a disciplina obrigatória chamada Convivência em Processo de Grupo (CPG), que fala basicamente de sexo e drogas. Em todas as séries são usados filmes, livros, jogos e brincadeiras. Mas, na 5ª série, os assuntos são principalmente o conhecimento do corpo e reprodução, enquanto na 6ª fala-se do relacionamento com o outro e as mudanças causadas pela entrada na adolescência


"É a aula que eu mais gosto, a gente tira dúvidas. É mais fácil falar desse assunto na escola do que em casa", diz o aluno Rafael Spinola, de 13 anos, da 7ª série. Na sexta-feira, a sua turma participou de uma atividade em que escolhiam objetos para mochilas de viagens para meninos e meninas. "Serve para discutir a questão de gênero", diz a coordenadora da disciplina, Estela Zanini. Para o ensino médio, é proposta a elaboração de campanhas informativas sobre aids e uma espécie de feira sobre métodos contraceptivos, com demonstração de todas as opções.


(Portal Aprendiz/O Estado de S. Paulo)

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