domingo, 30 de maio de 2010

Escolas rurais sofrem com mais reprovações, abandonos e falta de estrutura

Nas escolas rurais, 49% dos alunos do ensino fundamental da rede pública já reprovaram o ano pelo menos uma vez até 2010, de acordo com Estudo o Nacional das Escolas Rurais, produzido pela Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA) e divulgado na última semana. A média nacional é de 11,8% em 2008, segundo o Instituto de Pesquisas Anísio Teixeira (Inep).

“Essas escolas enfrentam grande defasagem pedagógica e estrutural. Os professores não são capacitados, nem todas as escolas têm diretores, não possuem equipamentos e são longe da casa dos alunos”, avalia o técnico da pesquisa, Marcelo Garcia. “Além disso, elas concentram um grande número de estudantes pobres”.

O maior percentual de repetência está entre os estudantes de baixo poder aquisitivo (classe E), equivalente a 66%. Os valores diminuem conforme aumenta a renda das famílias: 52% na classe D, 39% na classe C e 15% na classe B, segundo o Estudo, produzido em parceria com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope).

“A pobreza não é só financeira, mas cultural”, comenta Garcia. “A mesma lógica vale para os professores”. A pesquisa foi realizada entre fevereiro e março de 2010 em 48 escolas multisseriadas de dez estados: Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Tocantins.

A taxa de abandono das escolas das zonas rurais registrada pelo Estudo também é maior que a média nacional: 7% contra 4,4%, segundo dado do Inep de 2008. Além disso, 6% dos alunos do campo já abandonaram a escola mais de uma vez e 1% duas vezes ou mais. “Essas escolas são esquecidas e defasadas. Elas não se tornam convidativas para os alunos”.

Entre os pais e os responsáveis dos alunos, 32% nunca estudaram ou não chegaram a completar a quarta série, segundo a pesquisa. “Quanto mais baixa a taxa de escolaridade dos pais, mais baixas as notas dos alunos”, avalia Garcia.

Prova Brasil

Com o levantamento, alunos de escolas rurais participaram pela primeira vez da Prova Brasil, que avalia a qualidade de educação no ensino fundamental. O Ministério da Educação não realizava as provas nesses locais por problemas de logística, segundo a Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil.

A Prova Brasil avalia a proficiência dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática. Nas duas disciplinas as médias das escolas rurais foram menores que as nacionais. Em matemática a diferença foi de 33,5 pontos, sendo 160 a média das escolas rurais e 193,5 a nacional. Em Português a média das escolas rurais na avaliação foi de 166 pontos, cerca de dez a menos que a média nacional, registrada em 175,8.

“Depois da divulgação do estudo, o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Lázaro, admitiu que a maior desigualdade na educação está entre as escolas rurais e urbanas”, conta Garcia. “Temos então que olhar para elas e equipá-las”.

Estrutura das escolas

Entre as escolas rurais, 92% não têm acesso à Internet, 82% não possuem telefone, 70% não têm biblioteca, 50% não têm diretores escolares e 76% ainda utilizam mimeógrafo, segundo o Estudo Nacional de Escolas Rurais. A pesquisa identificou, ainda, que o professor desempenha outras funções além de lecionar, como limpar a sala e preparar a merenda.

A área rural concentra cerca de seis milhões de alunos matriculados no ensino básico regular e aproximadamente 53 mil escolas. Aproximadamente 50% delas têm apenas uma sala de aula, segundo a pesquisa.

Texto de Sarah Fernandes - Portal Aprendiz.

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