domingo, 10 de agosto de 2008

Autópsia da educação de Baraúna

Já estamos a mais de um mês da divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do município de Baraúna e por incrível que pareça, com exceção de um Comitê Gestor criado pela Secretaria de Educação, nada foi feito. Diante de tão grave o problema até pensei que dessa vez os gestores e profissionais da educação do município ficariam preocupados com a tragédia anunciada. Mesmo a educação de Baraúna tendo chegado ao fim do poço, por incrível que pareça a tendência é de que em 2009, ano da próxima avaliação do Ministério da Educação, continuaremos no último lugar no ranking do IDEB.

São várias as causas da péssima educação de Baraúna, mas de modo geral elenco as que considero mais graves:

1) Maioria dos professores não domina os conteúdos que ensinam e nem aprendem a dar aula. Aprendem teorias de escritores consagrados, mas não aprendem a traduzir isso tudo em práticas testadas e comprovadas na sala de aula.

2) Não há prestação de contas em nenhum nível. Professores não são responsabilizados pelos maus resultados. Os diretores não são cobrados pelos resultados de suas escolas. As secretárias de educação do passado não se sentem responsáveis e não foram, tampouco, cobrados. É a impunidade em cadeia. Quando um médico comete um erro é condenado a pagar uma indenização ao paciente, perde seu registro profissional e nunca mais exercerá a profissão. Quando uma criança se transforma num delinqüente por não ter tido uma educação de qualidade ninguém é punido.

3) A comunidade de educadores não acredita em educação baseada em evidência. Quando a maioria dos professores tinham apenas o segundo grau a qualidade da educação do nosso município era muito melhor, mas depois que vieram os Piaget da vida com teorias inter-galáticas, desprezaram tudo o que vínhamos fazendo e que deu certo. Nos países que conseguiram recuperar a qualidade da educação, vemos profissionalismo, foco no essencial, métodos simples, mas bem dominados pelos professores. O que falta em malabarismos intelectuais e teorias sobra em persistência e seriedade, posturas que não temos.

4) Os pais dos nossos alunos e boa parte dos que compõem o quadro de profissionais da educação não tem a educação como um bem importante. Pesquisas de opinião com pais mostram um resultado quase inacreditável: eles estão satisfeitos com a educação oferecida aos seus filhos porque tem vagas, merenda e de certa forma seu pimpolho mais cedo ou mais tarde terá algum diploma fraudado.

5) Boa parte dos professores se utilizam da educação como meio de satisfazer seus interesses individuais enquanto os dos alunos não interessa. Esse comportamento transforma os professores de educadores em simples prestador de serviço. Infelizmente, só haverá uma mobilização coletiva dos colegas professores em prol da melhoria da nossa educação quando os maus resultados resultarem na redução dos salários.

6) A classe de educadores do município é muito partidarizada, priorizam o assistencialismo político em detrimento da conquista pela luta de classe. Essa situação gera um problema sério que é a proteção e indicação de pessoas sem capacidade técnica e descomprometidas para cargos importantes e estratégicos para educação.

7) Má utilização dos escassos recursos da educação. Temos o Conselho do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) que até o momento seus conselheiros não disseram para que vieram. O mau funcionamento desse conselho tem como conseqüências a falta de transparência e má utilização dos recursos.

8) Falta de um Plano de Valorização do Professor. A indicação de profissionais para cargos estratégicos usando o critério político e a melhoria de salários sem uma avaliação bem criteriosa desmotiva os profissionais que tentam, a custos sacrifícios, continuar lutando por um ensino de qualidade.

Diante desse descaso quem sai ganhando com a péssima educação são os maus profissionais da educação e os políticos que querem ter o povo domado a pão e água. Os primeiros recebendo um salário e oferecendo aos nosso as nossas crianças e adolescentes uma educação falsificada e o segundo continuarão se aproveitando dos eleitores que em ano de eleição se transformam em presas fáceis.

Pensemos na lógica de um político. Pela sua posição na sociedade, são pessoas com excelentes radares para detectar onde estão as reais demandas dos seus eleitores. A sociedade tem demandas muito claras e muito vocais. Quer ruas pavimentadas, quer serviços de saúde, quer programas assistenciais e muito mais. Tem percepções muito duvidosa quanto ao que falta. Só reclamam. Ora, se consideram que as escolas de seus filhos são boas, seria uma péssima idéia para um político ou um administrador mobilizar os escassos recursos existentes para sanar um problema que não existe na cabeça dos seus eleitores. Por isso o ditado cada povo tem o político que merece se adegua muito bem a Baraúna.

Infelizmente a solução para nossas mazelas educacionais passa, portanto, pela geração de uma crise de proporções muito grande. Não iremos a lugar algum se a sociedade baraunense não for convencida de que a nova geração está sendo fraudada na qualidade da educação que recebe e que, por isso, o futuro da nossa juventude está sendo bloqueado. Não acredito que há espaço para reformas na educação quando uma fração predominante da população está contente com o que tem, inclusive boa parte dos profissionais que fazem a educação de Baraúna.

Antes de resolver os problemas técnicos do ensino que, de resto, não são tão difíceis assim, temos que lidar com a equação política. Em outras palavras, a qualidade da nossa educação depende de decisões e estratégias políticas.

Nenhum comentário: